Uma das coisas que me disseram na vida, que mais me magoou (talvez pela pessoa que o disse) foi que ele não se via obrigada a retribuir o que recebia, pois nunca me tinha pedido para lhe dar tanto. O autor desta poética frase foi o meu irmão, bem pequenino. Sei que não foi sentido. Que foi daquelas coisas parvas que dizemos numa discussão, quando queremos magoar o outro. Mas foi sem dúvida, a façanha melhor conseguida, até à data.
Anos mais tarde e após já ter passado algum tempo de me ter deixado, um ex confessou que uma das razões pelas quais a nossa relação não resultou foi por nunca se sentir à altura. Que sempre que achava que fazia algo excepcional para me agradar, eu (ainda que sem intenção) o superava (lá esta, excepcional é algo muito relativo...)! Que nunca seria capaz de dar tanto quanto recebia e que dificilmente eu iria encontrar quem o fizesse. A verdade é que desde aí, me debato com esta situação vezes e vezes sem conta. E nem me refiro somente a pessoas com quem tenho ligações amorosas, sinto isso entre amigos e mesmo, ás vezes familiares. Poucos são aqueles que se dão ao trabalho de marcar pela diferença. E põe-se então a questão: "Porquê"? Falta de interesse ou criatividade? Sou tomada pela minha entrega, como dado adquirido? Não valerei a pena? Não sei. Mas adorava saber...
Fico feliz em fazer o próximo feliz. Satisfaz-de surpreendê-lo do nada, fazê-lo sorrir. Tudo isto me faz sentir e sei que me torna, alguém melhor. Mas porque não podemos todos pensar assim? O mundo seria um sítio tão mais bonito! Em vez disso, imperam sentimentos como o orgulho, a falta de humildade, o egoísmo e a teimosia. Como deixamos que o mundo no qual vivemos chegasse a isto? Desde quando valorizar o outro, abraça-lo, apoia-lo, fazê-lo sentir-se amado é sinal de fraqueza? Não sei. Mas adorava saber...
Porque não conseguimos pôr de lado uma picardia, uma teimosia, uma palavra rude, se sabemos que isso apenas vai magoar o outro? Porque não conseguimos abdicar de umas horas dos nossos interesses, em prol daqueles que dividem a vida connosco, das suas carências? Apercebemo-nos sequer delas?
As minhas dúvidas existenciais prevalecem. E desconfio que comigo ficarão por longos anos. Darei eu, realmente demais? E quem está comigo acomoda-se ao facto de ser tratado como realeza? Ou serei eu, uma eterna insatisfeita sempre em busca de mais e melhor? Terei eu, um terrível problema em viver com as insuficiências emocionais dos outros? Acredito eu, quando com a visão toldada pelo amor (em todas as suas formas) que as pessoas são melhores do que realmente são?
Estará o problema em mim?
Espero pouco, em troca da minha dedicação. Apenas um pouco do mesmo. E gratidão. Porque continuo a achar, apesar de saber que está fora de moda que "amor com amor se paga".
Há 8 anos