Não invejo a felicidade dos outros. Nem as suas gargalhadas me incomodam. Mas não quero sair, ainda não estou pronta. Fico no meu buraquinho seguro, e cheiro mais uma vez a tua camisola. Encho os pulmões com o teu aroma. E tu ficas lá, concentrado no meu peito. Contenho a respiração, pois não te quero deixar sair. Mas sem grandes forças, solto o ar.
Olho em volta, á procura de algo teu: o relógio barato que pediste e só o pudeste usar naquele quarto de hospital, o livro que te ofereci no Natal, que só conseguiste ler até á 26ª página e a tua carteira, magrinha. Que contém apenas meia dúzia de cartões, dinheiro e uns recibos.
Baixo o olhar e sinto os olhos a ficarem húmidos.
Quero ligar-te. Mas o teu número já não existe. A única maneira de ouvir a tua voz é naquelas cassetes VHS, cheias de pó das férias e festas, dos anos 90. E essas vi-as ontem, já não trazem nada de novo.
Quero absorver-te, ler-te, olhar para o teu rosto, sem lembrar o sofrimento da partida. De uma partida sem regresso, sem retorno a casa.
Já li e reli várias vezes as tuas sms, vi as fotos tuas que o telemóvel guarda, as dos albuns e molduras da casa.
Nada me consola, nada me traz paz.
Fecho os olhos e relembro o toque da tua pele fina, morna e massilenta, já naquela cama de hospital.
Que saudades, meu pai.
Que dor que me rasga o peito e me leva a alma!
Sei que foste a saber que eras amado. Sei que te disse sempre que pude. Mas quem me dera fazê-lo mais uma vez. Olhar nos teus olhos e vê-los a olharem para mim.
Não consigo largar. Não consigo aceitar que te perdi. E não sei como vou arranjar forças para voltar a ser feliz outra vez.
Há 8 anos
que corra tudo bem para ti e que consigas encontrar a paz que precisas para seguir em frente :)
ResponderEliminarLamento muito.
ResponderEliminarÉ dar tempo ao tempo e ter força. Beijinho