terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A desmesurada dor de se ir perdendo um pai

Como nos mentalizamos que vamos ficar orfãos?
Como imaginamos os aniversários, as férias, o Natal sem um pai?
Como nos capacitamos que apartir de agora, deixamos de fazer memórias e passamos a viver delas.
Como aceitamos a sua ausência para todo o sempre? O vazia na mesa? O número de telemóvel que nunca mais será usado ou atendido?A festa que nunca mais teremos no rosto? Aquele nome carinhoso de infância, pelo qual apenas ele nos continua a chamar?
Passei a minha vida a pedir para que quando me levassem alguém, eu tivesse já a minha própria família, para me agarrar, para me obrigar a levantar de manhã. E agora que tenho uma filha, continuo sem estar preparada para deixar de o ser.
Como se despoja o armário das suas roupas? As gavetas dos seus objectos pessoais? 
Como conseguirei eu mentalizar-me que a minha filha não terá memórias suas com o avô, apenas aquelas contadas?
Quem te viu, meu pai. E quem te vê! Magrinho, amedrontado, encolhido...
Se apenas eu pudesse minimizar essa dor, esse medo. Se eu pudesse adiar ter de te perder...
Como nos mentalizamos da morte de um pai.
Não o fazemos. Não há como. Em idade alguma.
Não há como preparar o nosso coração para a infindável dor que vai sentir e que sentirá, pela vida fora...
Pode só haver uma mãe, mas pais, como tu também.

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