quarta-feira, 25 de março de 2015

Dois meses passaram

e eu já me habituei a esta dor cativa em mim. 
Na minha alma, no meu coração, no meu ser.
Questiono-me se algum dia voltarei a ser 100% feliz, sem este espinho, sempre presente.
Questiono-me, se na verdade o quererei ser...
Não me sinto  completa, para ser feliz. 
E só tu faltas, meu pai.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Saudade, meu pai


Day 8 Saddest Moment: There are a lot of sad Disney moments but this one just always makes me cry:(

Ontem desliguei-me do mundo. Das pessoas, das ruas, dos media e principalmente das redes sociais.
Não por inveja. Entendo como inveja o nosso desejo que os outros não tenham algo. Não é isso que sinto. Simplesmente também mo queria muito, para mim.
Sempre festejamos o dia do pai, com pompa e circunstância. Escolhíamos com antecedência a prenda a dar e ao jantar reuniamo-nos. A minha mãe fazia uma refeição especial e partilhávamos amor e gargalhadas.
O meu pai era curioso com os presentes e abria-os com gosto. Tal e qual uma criança. Até os tínhamos de esconder dele. E nós adorávamos vê-los assim, vaidoso e contente, entre aqueles que amava e para os quais viveu.

Ontem recordei-o com muito carinho e orgulho. Porque apesar de o ter tido apenas por quase 34 anos, soube o que era ter um PAI.Não um qualquer, um amigo preocupado e sempre presente.
Claro, que quanto melhor é a pessoa, quanto mais a amamos e quanto melhor nos trata, mais sentimos a sua falta. E foi isso que aconteceu ontem. Muita saudade, um vazio enorme. Um imaginar os filhos a poderem abraçar os seus pais e dizerem que os amam. E eu ter de ir deixar um postal, numa pedra fria de granito polido.

Porque tudo o que sou é graças a ti. Mas sem ti, nada sou.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Amanhã faço anos. E pela primeira vez, desde que me lembro não os quero nem fazer, nem festejar.
Não porque já pesam ou não me sinta com 34. Mas porque sei que nunca me irei sentir tão feliz, tão completa, como no ano passado.
Não só tinha toda a família que sempre conheci, unida, em minha casa. Mas como tinha a minha filha de meses, o fantástico homem que amo, com quem a fiz e a minha nova família, os meus sogros.
Estava feliz. A ouvir as suas vozes em uníssono, a partilhar as suas gargalhadas, a oferecer-lhes a comida com tanto amor cozinhada para eles.
Este ano, tenho lágrimas e uma família fracturada, desmembrada, á qual foi tirada o coração, sem dó nem piedade.
Não quero canções, não quero brindes, não quero aquele lugar vazio á mesa.
Porque o que me tornaria completa novamente eu não posso ter...
Aproveitem por isso, enquanto têm quem amam ao vosso lado. Pois só assim a vida vale a pena ser celebrada.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O tempo não cura a ausência, não atenua a saudade, não apresenta o conformismo.
A tua partida continua sem fazer sentido da minha cabeça e o meu coração continua lacerado, pela falta da tua presença, da tua amizade.
Onde estarás? O que farás? Vens-nos ver?
Desde que partiste, por vezes quando estou só sinto-te lá e quase ouço o teu doce sussurro. Travo diálogos na minha cabeça contigo e quase te faço um diário, em conversa.
Ouves-me? Sentes o meu amor ainda  e para sempre latente?
Gostava que estivesses perdido, para te poder procurar. Gostava que estivesses apenas de férias, para poderes voltar. Mas não, estás morto...morto (repito para me capacitar) e nada vai mudar isso. Não é um estado temporário, como a varicela, uma paixão ardente ou soluços. Partiste para sempre, estas morto, deixaste-nos e nada vai mudar isso.
E o nada, o nunca, o jamais são palavras tão duras, tão eternas, tão incontornáveis.
Se houvesse uma solução, uma maneira...
O que eu não dava para te abraçar, para me despedir correctamente, para te ouvir e sentir uma última vez.

Amo-te muito, meu rei.
E lembrar-me-ei de ti sempre com a dignidade que nunca perdeste.

A tua filha
(ou o que resta dela)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Uma semana sem ti,

"I was never one to patiently pick up broken fragments and glue them back together again and tell myself that the mended whole is as good as new. What is broken is broken--and I'd rather remember it as it was at its best than mend it and see the broken places as long as I lived." Margaret Mitchell
O dia reflecte o meu estado de espírito: tempestuoso, triste, escuro e chuvoso.
Está inconformado, como eu ainda me encontro.
E após ter passado anos, preocupada se estavas quentinho, bem agasalhado. Penso em ti hoje, num buraco de terra molhada. O meu lado racional sabe que já não sentes, que já não te afecta. Mas o meu lado emocional tinha vontade de levar uma manta e estende-la sobre a tua campa, para te trazer, de alguma forma, aconchego.
Deixaste-nos faz hoje uma semana. E a saudade é imensa. O vazio e a dor mantêm-se. Pouco mudou:continuo a chorar todos os dias, continuo apática ao mundo á minha volta, continuo a querer pegar no telefone e falar contigo. A tua camisola ainda está na minha cama, os teus objectos pessoais ainda pousados na cómoda.
Penso no teu doce olhar, ultimamente muito cansado. Na tua voz e sensatas palavras, no toque e cheiro da tua pele, em ti. E não acredito. Não sei como recomeçar, como entrar na rotina e nas conversas banais, como sorrir. Parece-me um caminho tão longo a percorrer.
Não tenho fé, nem sou crente em nenhum religião ou entidade, por isso só me resta agarrar á minha filha, ir buscar a ela as forças que preciso para sair da cama, para comer, para pelo menos...sobreviver.
Parece-me tão em vão viver, se nunca mais partilharei nada contigo.

Amo-te, paizinho.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Do funeral do meu pai recordo o que todos traziam calçado. Uns o calçado do dia a dia, outros, algo melhor, outros ainda o primeiro par que encontraram em casa.
A minha mãe calçou o par de sapatos que o meu pai mais odiava:
"Deita isso fora! - dizia-lhe - Parece que não tens outros sapatos ou dinheiro para os comprar!"
Detestava-os. E ela levou-os, na derradeira despedida. Fez-me sorrir.Pela sua personalidade irreverente. Porque me lembrei das picardias dos dois. Sempre discutiram muito (quando o meu pai ainda tinha energia para o fazer), mas sempre se mantiveram juntos. Quase 35 anos de casamento. Outros tantos roubados pela doença, os que aí virão.
As minhas botas iam tremulas, inseguras dos passos a dar. Comandadas por pernas bamboleantes e fragilizadas. Não chegaram ao destino, não tiveram forças, simplesmente não conseguiram. Ficaram perto, a albergar os meus pés encolhidos, frios e carentes, mas a cópia perfeita dos dele.
E ali ficaram largos minutos.Até que se sentiram confiantes para dar os derradeiros passos até ao seu encontro. Mas já escondido, já abrigado na sua morada final.
Calcaram a terra, que aos poucos colocavam sobre ele. Permitiram que os meus dedos se encaracolassem, que descomprimissem e que aos poucos em conjunto com o resto dos meus membros, rumasse junto a casa.
O que trouxe do funeral do meu pai? A certeza de que ainda com dificuldade todos os passos que der serão por ti e para ti.

Descansa em paz, paizinho.
A saudade será constante até que a morte nos volte a juntar.

domingo, 25 de janeiro de 2015

Depois da perda

Não invejo a felicidade dos outros. Nem as suas gargalhadas me incomodam. Mas não quero sair, ainda não estou pronta. Fico no meu buraquinho seguro, e cheiro mais uma vez a tua camisola. Encho os pulmões com o teu aroma. E tu ficas lá, concentrado no meu peito. Contenho a respiração, pois não te quero deixar sair. Mas sem grandes forças, solto o ar.
Olho em volta, á procura de algo teu: o relógio barato que pediste e só o pudeste usar naquele quarto de hospital, o livro que te ofereci no Natal, que só conseguiste ler até á 26ª página e a tua carteira, magrinha. Que contém apenas meia dúzia de cartões, dinheiro e uns recibos.
Baixo o olhar e sinto os olhos a ficarem húmidos.
Quero ligar-te. Mas o teu número já não existe. A única maneira de ouvir a tua voz é naquelas cassetes VHS, cheias de pó das férias e festas, dos anos 90. E essas vi-as ontem, já não trazem nada de novo.
Quero absorver-te, ler-te, olhar para o teu rosto, sem lembrar o sofrimento da partida. De uma partida sem regresso, sem retorno a casa.
Já li e reli várias vezes as tuas sms, vi as fotos tuas que o telemóvel guarda, as dos albuns e molduras da casa.
Nada me consola, nada me traz paz. 
Fecho os olhos e relembro o toque da tua pele fina, morna e massilenta, já naquela cama de hospital.
Que saudades, meu pai.
Que dor que me rasga o peito e me leva a alma!
Sei que foste a saber que eras amado. Sei que te disse sempre que pude. Mas quem me dera fazê-lo mais uma vez. Olhar nos teus olhos e vê-los a olharem para mim.
Não consigo largar. Não consigo aceitar que te perdi. E não sei como vou arranjar forças para voltar a ser feliz outra vez.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A desmesurada dor de se ir perdendo um pai

Como nos mentalizamos que vamos ficar orfãos?
Como imaginamos os aniversários, as férias, o Natal sem um pai?
Como nos capacitamos que apartir de agora, deixamos de fazer memórias e passamos a viver delas.
Como aceitamos a sua ausência para todo o sempre? O vazia na mesa? O número de telemóvel que nunca mais será usado ou atendido?A festa que nunca mais teremos no rosto? Aquele nome carinhoso de infância, pelo qual apenas ele nos continua a chamar?
Passei a minha vida a pedir para que quando me levassem alguém, eu tivesse já a minha própria família, para me agarrar, para me obrigar a levantar de manhã. E agora que tenho uma filha, continuo sem estar preparada para deixar de o ser.
Como se despoja o armário das suas roupas? As gavetas dos seus objectos pessoais? 
Como conseguirei eu mentalizar-me que a minha filha não terá memórias suas com o avô, apenas aquelas contadas?
Quem te viu, meu pai. E quem te vê! Magrinho, amedrontado, encolhido...
Se apenas eu pudesse minimizar essa dor, esse medo. Se eu pudesse adiar ter de te perder...
Como nos mentalizamos da morte de um pai.
Não o fazemos. Não há como. Em idade alguma.
Não há como preparar o nosso coração para a infindável dor que vai sentir e que sentirá, pela vida fora...
Pode só haver uma mãe, mas pais, como tu também.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Amor com amor se paga

Uma das coisas que me disseram na vida, que mais me magoou (talvez pela pessoa que o disse) foi que ele não se via obrigada a retribuir o que recebia, pois nunca me tinha pedido para lhe dar tanto. O autor desta poética frase foi o meu irmão, bem pequenino. Sei que não foi sentido. Que foi daquelas coisas parvas que dizemos numa discussão, quando queremos magoar o outro. Mas foi sem dúvida, a façanha melhor conseguida, até à data.
Anos mais tarde e após já ter passado algum tempo de me ter deixado, um ex confessou que uma das razões pelas quais a nossa relação não resultou foi por nunca se sentir à altura. Que sempre que achava que fazia algo excepcional para me agradar, eu (ainda que sem intenção) o superava (lá esta, excepcional é algo muito relativo...)! Que nunca seria capaz de dar tanto quanto recebia e que dificilmente eu iria encontrar quem o fizesse. A verdade é que desde aí, me debato com esta situação vezes e vezes sem conta. E nem me refiro somente a pessoas com quem tenho ligações amorosas, sinto isso entre amigos e mesmo, ás vezes familiares. Poucos são aqueles que se dão ao trabalho de marcar pela diferença. E põe-se então a questão: "Porquê"? Falta de interesse ou criatividade? Sou tomada pela minha entrega, como dado adquirido? Não valerei a pena? Não sei. Mas adorava saber...
Fico feliz em fazer o próximo feliz. Satisfaz-de surpreendê-lo do nada, fazê-lo sorrir. Tudo isto me faz sentir e sei que me torna, alguém melhor. Mas porque não podemos todos pensar assim? O mundo seria um sítio tão mais bonito! Em vez disso, imperam sentimentos como o orgulho, a falta de humildade, o egoísmo e a teimosia. Como deixamos que o mundo no qual vivemos chegasse a isto? Desde quando valorizar o outro, abraça-lo, apoia-lo, fazê-lo sentir-se amado é sinal de fraqueza? Não sei. Mas adorava saber...
Porque não conseguimos pôr de lado uma picardia, uma teimosia, uma palavra rude, se sabemos que isso apenas vai magoar o outro? Porque não conseguimos abdicar de umas horas dos nossos interesses, em prol daqueles que dividem a vida connosco, das suas carências? Apercebemo-nos sequer delas?
As minhas dúvidas existenciais prevalecem. E desconfio que comigo ficarão por longos anos. Darei eu, realmente demais? E quem está comigo acomoda-se ao facto de ser tratado como realeza? Ou serei eu, uma eterna insatisfeita sempre em busca de mais e melhor? Terei eu, um terrível problema em viver com as insuficiências emocionais dos outros? Acredito eu, quando com a visão toldada pelo amor (em todas as suas formas) que as pessoas são melhores do que realmente são?
Estará o problema em mim?
Espero pouco, em troca da minha dedicação. Apenas um pouco do mesmo. E gratidão. Porque continuo a achar, apesar de saber que está fora de moda que "amor com amor se paga".